Dizem que a cachaça é água
Aqui fica uma crónica escrita por Rui Unas que refere, em traços gerais, aquilo que eu também penso acerca do Carnaval.
"É uma das úteis constatações que milhares e milhares de portugueses vão ouvir enquanto pulam em biquinhos dos pés e urram como ursos com o cio neste Carnaval: “Cachaça não é água não. Cachaça vem do alambique e a água vem do ribeirão”. Também na banda sonora desta quadra podemos ouvir considerações sobre os laços afectivos que nos unem a Charlie Brown (?) entre outras alarvidades “poéticas” que fazem parte dos clássicos carnavalescos desde que eu tenho memória.
Há algo de profundamente deprimente no Carnaval português. Eu até louvo a coragem das mulheres portuguesas cor de lixívia que bamboleiam a sua camada adiposa em praça pública nos desfiles, contra ventos, frios e chuvas. Até sou condescendente com o prazer anual que muitos homens têm em se vestir de mulher. Até suporto os confetes que me entram pela boca, nariz e ouvidos.
Eu até sou complacente com os carros alegóricos toscos que supostamente fazem crítica social. Eu até consigo compreender como há gente que se arrisque a apanhar herpes no meio de tanto suor partilhado em festas de discotecas e salões na promiscuidade da folia. Eu até aceito que gente que nunca vi na vida me trate com a intimidade de amigo de infância. Suporto passivamente as bebedeiras vomitadas na calçada.
Tenho pena, mas até compreendo, que não é fácil pôr a Alexandra Lencastre desnudada a espasmar no meio de Torres Vedras, como fazem as actrizes de primeira linha no Brasil. Não me importo mesmo nada com a probabilidade de podermos concretizar uma fantasia sexual do tipo facturar uma enfermeira ou a Catwoman numa qualquer festa com “fantasias”. Mesmo que tenham uma máscara de bruxa, nessa noite marcha tudo…
Nessas festas podemos roçar-nos à vontade, pegar nas anquinhas, na cinturinha de toda a mulher que nos aparecer à frente e isso, convenhamos, não acontece todos os dias. Temos sempre a possibilidade de assistir à transmissão do Carnaval do Rio de Janeiro que é sempre um regalo para a vista e inspiração para momentos mais solitários.
Os meus amigos vão desculpar-me, mas, de facto, o Carnaval para mim tem tanta importância com o dia da árvore ou o dia internacional da mulher, que é já para a semana. Passa-me um bocadinho ao lado. A não ser quando apanho com um saco de água em cheio! Aí é que me lembro do quão divertido é o Carnaval."
Rui Unas na sua habitual crónica semanal no “24 Horas”
"É uma das úteis constatações que milhares e milhares de portugueses vão ouvir enquanto pulam em biquinhos dos pés e urram como ursos com o cio neste Carnaval: “Cachaça não é água não. Cachaça vem do alambique e a água vem do ribeirão”. Também na banda sonora desta quadra podemos ouvir considerações sobre os laços afectivos que nos unem a Charlie Brown (?) entre outras alarvidades “poéticas” que fazem parte dos clássicos carnavalescos desde que eu tenho memória.
Há algo de profundamente deprimente no Carnaval português. Eu até louvo a coragem das mulheres portuguesas cor de lixívia que bamboleiam a sua camada adiposa em praça pública nos desfiles, contra ventos, frios e chuvas. Até sou condescendente com o prazer anual que muitos homens têm em se vestir de mulher. Até suporto os confetes que me entram pela boca, nariz e ouvidos.
Eu até sou complacente com os carros alegóricos toscos que supostamente fazem crítica social. Eu até consigo compreender como há gente que se arrisque a apanhar herpes no meio de tanto suor partilhado em festas de discotecas e salões na promiscuidade da folia. Eu até aceito que gente que nunca vi na vida me trate com a intimidade de amigo de infância. Suporto passivamente as bebedeiras vomitadas na calçada.
Tenho pena, mas até compreendo, que não é fácil pôr a Alexandra Lencastre desnudada a espasmar no meio de Torres Vedras, como fazem as actrizes de primeira linha no Brasil. Não me importo mesmo nada com a probabilidade de podermos concretizar uma fantasia sexual do tipo facturar uma enfermeira ou a Catwoman numa qualquer festa com “fantasias”. Mesmo que tenham uma máscara de bruxa, nessa noite marcha tudo…
Nessas festas podemos roçar-nos à vontade, pegar nas anquinhas, na cinturinha de toda a mulher que nos aparecer à frente e isso, convenhamos, não acontece todos os dias. Temos sempre a possibilidade de assistir à transmissão do Carnaval do Rio de Janeiro que é sempre um regalo para a vista e inspiração para momentos mais solitários.
Os meus amigos vão desculpar-me, mas, de facto, o Carnaval para mim tem tanta importância com o dia da árvore ou o dia internacional da mulher, que é já para a semana. Passa-me um bocadinho ao lado. A não ser quando apanho com um saco de água em cheio! Aí é que me lembro do quão divertido é o Carnaval."
Rui Unas na sua habitual crónica semanal no “24 Horas”
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