Hoje no OP

O som nos meus ouvidos A rádio nunca foi um desejo claro, apesar do curso de Comunicação Social e da vontade de fazer jornalismo. Foi daquelas coisas nas quais entramos a medo, temendo o pior e não criando expectativas que possam ser demasiado elevadas. Dizem que a rádio deixa um "bichinho" e acho agora que foi esse "bichinho" que me foi devorando e consumindo, transformando esta passagem radiofónica numa espécie de paixão sem explicação. Foi também graças às pessoas que encontrei, ao apoio que me deram, que comecei a comentar jogos de futsal, depois de futebol e por fim os relatos todos os fins-de-semana. Que comecei a fazer directos no exterior, que iniciei a leitura dos noticiários em directo, que passei pelas reportagens, entrevistas, rubricas. E fui crescendo com aquele som nos meus ouvidos.
Entre muitas histórias para contar, partilho uma que marcou o resto da jornada. Separou o receio inicial do arranque para algo mais prometedor. Jogo de futsal no Pavilhão Municipal de Famalicão entre FAC e Piedense para a Taça de Portugal. Como habitualmente acompanhava o futsal do FAC, por essa altura no principal escalão da modalidade, foi destacado juntamente com o Aristides Ferreira para a cobertura do jogo. Eu faria os comentários e análise do jogo e o Aristides o relato. Essa tarde desportiva de sábado incluía ainda o habitual hóquei em patins, também com relato de um jogo do Riba d'Ave Hóquei Clube a seguir ao futsal e feito pelo mesmo Aristides. Tudo corria dentro do previsto até que o empate na partida não atava nem desatava e foi necessário jogar-se o prolongamento. Com o tempo a passar e o meu colega de trabalho a ter ainda de se deslocar para Riba d'Ave, a sugestão veio de estúdio com o Arcindo Guimarães a dizer que eu ficaria a assegurar o resto do relato do jogo enquanto o Aristides sairia para rumar ao hóquei em patins. Incrédulo e a pensar "como é que eu saio desta?!", lá peguei no microfone enquanto o Aristides arrumava as suas coisas. A emissão estava em estúdio para compromissos publicitários e regressou pouco depois em directo ao pavilhão. Praticamente sem pensar no que vinha a seguir, imaginei os relatos que costumava ouvir e lá segui em frente.
Correu bem e foi o passo definitivo para acreditar que era capaz. Mais ou menos desta forma a rádio foi exercendo o seu fascínio. Algo como as palavras que dizemos ao microfone à nossa frente e que não temos a noção da quantidade de pessoas que nos estão a ouvir. É a sensação do quarto fechado em que falamos sozinhos e os auscultadores nos ouvidos em que ouvimos perfeitamente o que dizemos ou as indicações do colega em estúdio. Uma espécie de voz da consciência que sabe bem ouvir. É o som que se ouve, nos marca e jamais se esquece. Porque por muitos anos que passem, continuarei com o som da rádio nos meus ouvidos. Por fim, quero deixar os votos de muitas felicidades a todos os que contribuem para a emissão diária da Rádio Digital FM e esperar que estes 23 anos de existência sejam apenas o começo de uma jornada, a cada dia que passa, ainda mais grandiosa.

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