Porque ele pode!


Final de mais um emocionante jogo da Premier League. O Chelsea, de José Mourinho, acabara de derrotar o Liverpool por 2-1, em Stamford Bridge. Seguiam-se as habituais flash-interview de análise ao encontro e como convidados os jogadores David Luiz e Eden Hazard, do Chelsea. Tudo normal não fosse o treinador português interromper inesperadamente a conversa, monopolizar o microfone, abraçar os dois jogadores e abandonar o local a sorrir.
E Mourinho apenas entrou em cena para num tom de brincadeira acrescentar que David Luiz tinha visto o cartão amarelo, propositadamente, para estar castigado no próximo encontro da Premier League e assim poder viajar para Portugal e aproveitar o final do ano. Nada que certamente não estivesse já previsto, assim como, e apesar da descontracção do momento, não tivesse também um propósito.
Primeiro José Mourinho interrompeu a flash-interview porque ele pode. Atingiu um patamar em que pode fazer tudo o que quiser, dizer o que muito bem lhe apetecer. Em matéria de futebol, e no caso particular dos treinadores, Mourinho está entre a elite, entre aqueles que são considerados os melhores do mundo. Tem prestígio, tem resultados, títulos e não tem mais nada a provar a ninguém.
Depois, o treinador português aproveitou o momento de vitória para descomprimir. Dar uma força extra aos seus jogadores, espalhar o bom ambiente e tornar-se ainda mais próximo do plantel. Com atitudes como esta se ganha um balneário, criando um clima favorável à conquista de mais vitórias. Nem todos se podem dar ao luxo de ser como José Mourinho. Cada um nasce para o que nasce. Tem mais jeito para determinada tarefa ou uma natural propensão para ser bem sucedido numa área concreta. Como uma espécie de chamamento, se preferirem algo tão simples e inato como respirar. Tudo acontece e resulta de forma perfeita. Sem esforço.
Como escreveu um dia Charles Bukovski sobre os escritores, mas que pode também ser aplicado a tantas outras paixões: «[…] quando chegar mesmo a altura, e se foste escolhido, vai acontecer por si só e continuará a acontecer até que tu morras ou morra em ti. Não há outra alternativa. E nunca houve.». Existem os predestinados que estarão sempre num patamar acima dos demais. A esses tudo lhes é permitido. Pela irreverência, pela coragem, pelo corte com o convencional.

Comentários

Anónimo disse…
Existem mesmo aqueles que têm uma apetência inata, mas que sem trabalho, esforço e dedicação não conseguem fazer seus talentos fluírem e destacarem-se.
Tudo é um misto de diferentes conjugações, momentos, talentos e oportunidades, que também é um talento saber aproveitá-los da melhor forma, acho que é, e o José Mourinho sabe-o bem.
Este momento é um bom exemplo para todos os que por momentos levam a vida demasiado a sério...

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