A tradição é...
Um dos anúncios que passava na televisão há uns anos atrás abordava a temática da tradição. Dava alguns exemplos do que era a tradição para terminar a concluir que a tradição já não é o que era. E de facto, espreitando o Natal, a tradição está a diluir-se. Melhor, criam-se novos hábitos que vão matando algumas tradições. Transformando-se noutras. Confusos?
Há não muito tempo atrás, as compras natalícias faziam-se no comércio de proximidade. Na loja do amigo ou familiar bem no final da rua. Com o embrulho cuidadosamente elaborado, o laçarote a condizer, um pouco de fita-cola a segurar e era como se ali estivesse o melhor presente da década. Nos dias que correm os presentes são comprados em centros comerciais apinhados de gente, onde impingem um qualquer produto massificado que colocam dentro de sacos de papel e fecham com agrafos.
No Natal já existiu a tradição das pessoas escreverem umas às outras. Escolhendo postais, pensando em palavras dedicadas única e exclusivamente para determinada pessoa. Escritas com a caligrafia, bonita ou feia, do remetente. Agora criam-se mensagens padrão, aproveitadas de alguém que enviou e adicionam-se destinatários, aos molhos, com o intuito de se desejar um Feliz Natal e um Novo Ano repleto de sucessos. Por outras palavras, por mensagem escrita no telemóvel, por e-mail.
O Natal é a altura de juntar toda a família e trocar presentes ao bater da meia-noite. Mas também isso se vai substituindo, perdendo significado na medida dos anos que avançam. Até pelas pessoas anteriormente presentes e agora apenas em espírito. Os tempos mudam quase sem dar oportunidade de perceber que já não há volta atrás. Não existe uma forma de repetir o que passou. Somente relembrar.
A tradição é o ritual adoptado. Vem dos avós, dos pais e passa divergindo, ganhando novas fórmulas, novas interpretações, novas vivências. Na verdade, a tradição já não é o que era. Crescem novas tradições e o Natal não está a salvo dessa eventualidade. Muito provavelmente as tradições que levamos connosco vão morrendo aos poucos. E nada passa incólume aos anos tatuados no corpo.
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