Futebol Clube Hipocrisia
Vou deixar aqui um texto que li na net e que para mim faz todo o sentido. Não é normal trazer para aqui assuntos de desporto, mas é para variar um pouco.
«Na última época, Fernando Eurico, repórter e relatador de excelência da Antena 1, fez um comentário no final do jogo Manchester United-FC Porto que provocou uma chuva de críticas para o provedor dos ouvintes da rádio pública, Adelino Gomes. O que resultou numa censura a Eurico pelo facto de ter ousado afirmar que muitos portugueses não se podiam rever no magnífico resultado conseguido pelos azuis e brancos e pelas suas prestações na Europa do futebol.
Está instituída na Comunicação Social portuguesa a figura do provedor porque é moderno e desta forma as direções podem sacudir facilmente água do seu capote. Para o posto são normalmente designados jornalistas em fim de carreira com algum percurso académico, há muito tempo retirados do terreno e alguns deles mesmo completos desconhedores das agruras da profissão. Os personagens recebem as críticas dos leitores e dos ouvintes e confrontam os jornalistas como as mesmas no jeito de inquisidores. Por norma não se satisfazem com as explicações dos jornalistas e patrocinam as causas dos queixosos. Como aconteceu mais uma vez.
Criou-se um ambiente preverso e persecutório, classificando-se como delito de opinião a mais simples posição tomada por um jornalista. Bastando para tal que uma dezena de pessoas se indigne com a posição, pouco importando que centenas concordem com a posição assumida pelo jornalista.
Não estou a dizer com isto que todas as opiniões expressas por jornalistas são opiniões sensatas. Todos sabemos que o bom senso é um bem escasso no Mundo em que vivemos.
O que quero dizer é que por norma se dá importância ao acessório, transformando-o no essencial, promovendo-se um ambiente de autocensura que é grave.
Ora, Fernando Eurico emitiu uma opinião que fere profundamente a idossincrasia lusitana, caraterizada por uma hipocrisia consagrada nas declarações dos próprios dirigentes.
Todos sabemos que muitos são os portugueses que não se revêem nas vitórias do FC Porto.
Mais, todos sabemos que muitos são também os que não apenas não se revêem como também atiram foguetes quando os dragões conhecem um desaire europeu.
Fernando Eurico tem essa perfeita consciência, ele que até é um dos poucos jornalistas portugueses que não sofre por qualquer emblema nacional - é um arsenalista dos sete canhões.
Mas, infelizmente, o maior clube nacional continua a ser o Futebol Clube Hipocrisia. Tem adeptos em todos os cantos da nação e em todos os estratos sociais. É uma espécie de ranho que, no fundo, ajuda a unir o antigo reino que deu novos mundos ao mundo. Vá-se lá saber como, é o mistério.»
Eugénio Queirós, jornalista do Record
«Na última época, Fernando Eurico, repórter e relatador de excelência da Antena 1, fez um comentário no final do jogo Manchester United-FC Porto que provocou uma chuva de críticas para o provedor dos ouvintes da rádio pública, Adelino Gomes. O que resultou numa censura a Eurico pelo facto de ter ousado afirmar que muitos portugueses não se podiam rever no magnífico resultado conseguido pelos azuis e brancos e pelas suas prestações na Europa do futebol.
Está instituída na Comunicação Social portuguesa a figura do provedor porque é moderno e desta forma as direções podem sacudir facilmente água do seu capote. Para o posto são normalmente designados jornalistas em fim de carreira com algum percurso académico, há muito tempo retirados do terreno e alguns deles mesmo completos desconhedores das agruras da profissão. Os personagens recebem as críticas dos leitores e dos ouvintes e confrontam os jornalistas como as mesmas no jeito de inquisidores. Por norma não se satisfazem com as explicações dos jornalistas e patrocinam as causas dos queixosos. Como aconteceu mais uma vez.
Criou-se um ambiente preverso e persecutório, classificando-se como delito de opinião a mais simples posição tomada por um jornalista. Bastando para tal que uma dezena de pessoas se indigne com a posição, pouco importando que centenas concordem com a posição assumida pelo jornalista.
Não estou a dizer com isto que todas as opiniões expressas por jornalistas são opiniões sensatas. Todos sabemos que o bom senso é um bem escasso no Mundo em que vivemos.
O que quero dizer é que por norma se dá importância ao acessório, transformando-o no essencial, promovendo-se um ambiente de autocensura que é grave.
Ora, Fernando Eurico emitiu uma opinião que fere profundamente a idossincrasia lusitana, caraterizada por uma hipocrisia consagrada nas declarações dos próprios dirigentes.
Todos sabemos que muitos são os portugueses que não se revêem nas vitórias do FC Porto.
Mais, todos sabemos que muitos são também os que não apenas não se revêem como também atiram foguetes quando os dragões conhecem um desaire europeu.
Fernando Eurico tem essa perfeita consciência, ele que até é um dos poucos jornalistas portugueses que não sofre por qualquer emblema nacional - é um arsenalista dos sete canhões.
Mas, infelizmente, o maior clube nacional continua a ser o Futebol Clube Hipocrisia. Tem adeptos em todos os cantos da nação e em todos os estratos sociais. É uma espécie de ranho que, no fundo, ajuda a unir o antigo reino que deu novos mundos ao mundo. Vá-se lá saber como, é o mistério.»
Eugénio Queirós, jornalista do Record
Comentários
Onde diz arsenalistas... enganem-se quem pensa que é do Braga! Falamos do Arsenal mesmo, com cotas em dia!
E se alguma acção foi tomada contra o Fernando Eurico, duvido que tenha sido de ânimo leve... a classe protege-se e não é por meia dúzia de vozes que se cala outra.
Além do mais, a afirmação que está em causa - de que muitos portugueses n se reviam na vitória do porto - foi mesmo infeliz e desnecessária. Porque é uma verdade, contudo é meia verdade, pois o mesmo acontece em relação aos outros clubes. A isso se chama pluralidade e o direito a sentir o futebol da forma que bem se entende.
A questão é que essa é daquelas afirmações incendiárias de "tasco", que não cabe ao jornalista tecer, até porque nada acrescenta ao seu trabalho. Pelo contrário. O jornalista tem que estar acima desse tipo de considerações de "bancada" ou "mesa de café".
Mas é apenas a minha opinião. Se o Fernando Eurico foi punido de alguma forma, também acho contra-producente e é dar demasiada importância a algo que devia ter passado ao lado, mesmo que meia dúzia de "incendiados" com a afirmação n se tenham ficado e foram logo fazer "queixinhas".